Num artigo publicado no
P3, suplemento online do Público, Joaquim
Luís Coimbra, professor na Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto,
analisa os desafios que atualmente se colocam à universidade, sob o pano de
fundo de uma discussão sobre o plágio (http://p3.publico.pt/node/1160).
Segundo o autor, o plágio deve ser visto à luz das alterações profundas que têm
afetado a universidade nas últimas décadas, principalmente aquelas que estão
relacionadas com a entrada maciça de alunos e a submissão às leis de mercado. A
primeira acabou com um certo elitismo que era a marca da universidade até há
pouco tempo; a segunda tem-na submetido a um processo de “ funcionalização,
proletarização e instrumentalização” que a esvazia da sua substância. Ambas,
segundo o artigo, podem explicar a generalização do plágio.
A partir disto poder-se-ia certamente partir para
amplas reflexões. Muitos sentir-se-iam tentados a explicar o plágio como uma
manifestação de uma tendência portuguesa para o desenrasque, e até a louvá-lo enquanto tal. Outros, numa linha mais culta, relativizariam
o plágio, procurando demonstrar que pedir
emprestado é uma prática cultural consagrada desde que os romanos plagiaram
os gregos em tudo exceto no Direito. Outros simplesmente atirar-se-iam ao
facilitismo generalizado e à preguiça reinante. O artigo abre, no entanto,
linhas de análise muito mais interessantes, e passíveis de generalização ao
universo formativo para lá da universidade.
De facto estabeleceu-se, a par da teoria das
competências e em boa medida como uma sobre-simplificação da mesma, a retórica
da caixa de ferramentas. Segundo esta lógica, os desafios colocados ao
indivíduo são passíveis de resolução com recurso a uma série de expedientes
imediatistas e facilitistas, sem que o sujeito tenha verdadeiramente de se
debruçar sobre a natureza efetiva do problema. Tudo se resolve, desde que se
possua a tal caixa de ferramentas. Daqui resulta uma perversão generalizada de
meios e fins, que apenas cria mais desorientação e alienação. A lógica capaz de
levar um estudante a pensar que o grau, e não o conhecimento, é o objetivo de
um curso é a mesma que subjaz a outras mistificações da atualidade, das quais o
autor do artigo cita duas diretamente relacionadas com a formação: “a retórica
da empregabilidade” e a “leviandade do empreendedorismo incondicional”. Ou seja,
a ideia de que a universidade (ou a formação) é o sítio onde se vai comprar
essa milagrosa caixa de ferramentas.
A teoria da caixa de ferramentas é especialmente
perniciosa porque aliena os sujeitos dos fins últimos das suas ações. E ao
transformar as pessoas em meros executantes de tarefas superiormente escolhidas
priva-as do poder transformador que constitui o cerne da democracia. A capacidade
crítica de se colocar diante do mundo, de o analisar e de se empenhar em meios
de o transformar não vem, de facto, em nenhuma caixa de ferramentas. Estamos condenados,
mesmo, a ter de puxar pela cabeça.
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